O projeto Arte Ação Ambiental, do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, atua há nove anos na comunidade do Morro do Palácio. Através de oficinas e programas complementares, os jovens adquirem profissionalização, educação artística e ambiental. O projeto contribui para a geração de renda de algumas famílias, além de possibilitar a formação de cidadãos mais participativos, criativos e responsáveis.
A iniciativa começou a ganhar forma em 1998, após uma visita ao MAC de jovens da comunidade, participantes de uma oficina do projeto Capacitação Solidária. Durante a visita, os questionamentos desses jovens despertaram o interesse do atual coordenador geral do projeto e diretor do museu, Luiz Guilherme Vergara, que, junto com outros profissionais, já tinha uma idéia de projeto, mas sem onde aplicar.
No artigo MAC/Niterói – um museu para a arte e o mundo contemporâneo, da edição de maio de 2006 da Revista Eletrônica Jovem Museologia, Luiz Guilherme definiu o programa. “Arte Ação Ambiental aponta para uma prática transdisciplinar de formar projetos para criação coletiva, cuja culminância é a relação do indivíduo com a sua realidade. O museu passa a ser o mundo, o suporte e os materiais artísticos – a própria existência”.
Assim, em julho de 1999, nasceu o Arte Ação Ambiental, criado a partir da necessidade do museu de expandir sua área de atuação junto a diferentes grupos sociais. O projeto começou atendendo 40 jovens, entre 14 e 24 anos, com quatro oficinas: de jogos neoconcretos (jogos interativos baseados na obra de João Sattamini), papéis reciclados, paisagismo e jardinagem e uma de cidadania, visando à educação ambiental. Além disso, os participantes contavam com reforço escolar. Uma das exigências da iniciativa era que eles continuassem estudando.
Muitos participantes seguiram engajados no projeto, mesmo após o recesso de final de ano das oficinas. O Arte Ação transformara a realidade de alguns deles, a quem caberia o papel de multiplicadores. É o caso de Elielton Rocha, que participou do projeto desde o início e atualmente é professor de uma das oficinas e estagiário da Divisão de Arte Educação do MAC.
Segundo Elielton, no início ainda havia um estranhamento tanto por parte dos moradores da comunidade, que viam o MAC como algo muito diferente da sua realidade, quanto por parte dos professores, orientadores e coordenadores, que também tiveram que se acostumar com dois ambientes tão próximos, mas tão diferentes. “Quando passávamos da porta do museu para cá, estávamos em um lugar desconhecido para nós. Para eles também, quando passavam para comunidade, rompiam uma barreira muito grande.”
O Arte Ação Ambiental começou a ser divulgado através de mobilizações. Os organizadores faziam workshops, levavam as oficinas e seus produtos até a comunidade e os jovens procuravam o que lhes interessava. Essa estratégia serviu como um estímulo para a participação das pessoas. Até mesmo crianças, que não eram o público-alvo das oficinas, por serem profissionalizantes, começaram a se interessar. Para atender esse contingente, os organizadores elaboraram grupos especiais para ensinar técnicas de fabricação de papel a elas.
Atualmente, por falta de infra-estrutura apropriada na comunidade, as oficinas acontecem em outros locais, como no Colégio Estadual Aurelino Leal, no Ingá. Mas com a construção do Módulo de Ações Comunitárias no Morro do Palácio, o Maquinho, o projeto poderá se expandir. O Módulo tem projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer e é patrocinado pelo Fundo Social do BNDES. A localização íngreme e de difícil acesso atrasou a conclusão da obra, que será inaugurada em dezembro.
O coordenador executivo do projeto Leandro Baptista explicou que, com a construção do Módulo, o Arte Ação Ambiental se transformará em mais que um projeto, tornando-se uma filosofia de humanização da cultura através de uma maior participação de entidades como o MAC. Os coordenadores do projeto acreditam que, no futuro, a iniciativa poderá se expandir para outras comunidades de Niterói.
A arte como formadora de uma consciência do olhar
Elielton Rocha comentou que entre alguns participantes do projeto havia a vontade de mudar a comunidade. O que esses jovens não percebiam, porém, é que a mudança já havia começado neles. A arte passou a influenciar o olhar de cada um acerca do seu cotidiano, de sua realidade. “A comunidade continuava com os mesmos problemas, mas nós é que estávamos vendo de forma diferente, perdendo um pouco da irresponsabilidade e tendo até um pouco mais de carinho pelas coisas da comunidade.”Através das oficinas e ações educativas, o Arte Ação Ambiental permitiu uma valorização e maior interação dos jovens da comunidade com a cultura local. O projeto levou a arte contemporânea para além dos limites do museu, possibilitando que um grupo excluído do acesso à cultura pudesse freqüentar e interagir com o universo artístico.