sexta-feira, 12 de junho de 2009

TV Brasil sofre com a burocracia do serviço público



TV Brasil sofre com a burocracia do serviço público

Após um ano e cinco meses de vida e alguns empecilhos a emissora tenta atingir os cidadãos

Os tapetes são velhos, os carros ainda estampam o símbolo da TVE e os funcionários mais antigos se confundem com a troca. Não estão acostumados em trabalhar na nova TV Brasil. À entrada há um televisor moderno, de plasma, ligado no novo canal. A secretária, com o crachá da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP), assiste ao programa “Sem Censura”, que já era produzido pela antiga TVE do Rio. E, junto com o segurança, fiscaliza o hall de entrada da sede administrativa do recém criado canal público, a TV Brasil.

Em 2008 estreou no país a TV Brasil. Era o início da construção da nova TV pública na terra tupiniquim. Mas após um ano e cinco meses, são poucos os brasileiros que podem assistir o canal. Nem os habitantes da maior metrópole nacional podem ver a emissora, não há canal aberto e analógico para os paulistas, apenas por parabólica ou digital. A audiência é pequena e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) passa por dificuldades para legitimar-se.

Não há diferença entre os canais públicos antigos e a TV Brasil.

O presidente Luis Inácio Lula da Silva soltou a pólvora e o alarde foi grande sobre a construção de uma TV pública. No entanto, já existiam outros canais públicos. Para o jornalista Alberto Dines, não há diferença entre a TV Brasil e as outras TVs públicas, como a antiga TVE do Rio e a TV Cultura de São Paulo, por exemplo. “O estatuto é o mesmo e ambas são mantidas com dinheiro estatal”, explica. 

Segundo Aziz Filho, gerente executivo de jornalismo da TV Brasil, a principal diferença na construção da nova emissora, para as outras tentativas de um canal público é que essa é a primeira tentativa de uma televisão pública com alcance nacional e maior participação da população. A EBC tenta formar uma rede com as emissoras educativas pelo Brasil e, assim, formar uma programação heterogênea e que extrapola o eixo Rio - São Paulo.

No entanto, a maior parte da programação foi idealizada e produzida pela extinta TVE Rio. O jornal noturno, Repórter Brasil, um dos programas de maior audiência do canal, é transmitido simultaneamente de três estúdios, em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Apesar de o diário reservar parte do tempo para notícias de outras regiões do Brasil, é nítida a predominância do sudeste no noticiário.


Apesar do orçamento de R$ 350 milhões, a EBC não cresceu o esperado.

A redação do programa Observatório da Imprensa recebeu computadores novos, mas só após um ano e três meses do nascimento da TV Brasil. Dines aponta para os notebooks e com um sorriso no rosto, espera a chegada de câmeras e outros aparelhos eletrônicos novos. “Algumas câmeras estão tão velhas que são amarradas com arame, literalmente”, conta o veterano jornalista.

A EBC é uma empresa estatal e deve seguir os procedimentos burocráticos exigidos pela lei. Isso atrasa o andamento do canal, mas é um problema de todo o serviço público, garante José Paulo Cavalcanti Filho, advogado e membro do conselho da TV Brasil. São esses entraves que Orlando Senna, ex-diretor geral da EBC chamou de “gestão engessante”.

- Discordo da forma de gestão adotada pela empresa que, entre outros equívocos, concentra poderes excessivos na Presidência, engessando as instâncias operacionais, que necessitam de autonomia executiva para produzir em série, como em qualquer TV. – Disse em carta aberta. Senna deixou o cargo de diretor geral em junho de 2008, foi substituído por Paulo Rufino.

Desde o nascimento, já foram criados sete novos programas, além de dois telejornais. A presidente Tereza Cruvinel comemora esse avanço no ano de 2008 e acredita em uma perspectiva ainda melhor para o futuro. Para Cruvinel, “Trocar 20 horas de programação não é fácil em qualquer televisão, muito menos no setor público. Para produzir em casa, nós temos dificuldades com o sucateamento dos equipamentos. E para contratar parcerias, com produtoras independentes, tem todo um procedimento burocrático”, disse em entrevista ao portal Comunique-se.

Os fracos índices de audiência da TV Brasil

No Rio de Janeiro, a cidade com maior audiência da TV Brasil, a média diária marcada pelo IBOPE foi de 0,5 pontos. Mesmo com índices baixos, a direção do canal defende a programação, principalmente o jornal noturno Repórter Brasil. Aziz Filho ressalta que a relação da TV pública com a audiência é diferente. “A TV comercial precisa dos números porque valorizam o tempo do canal. A empresa pública tem outra função: a de priorizar a qualidade, a pluralidade e o cidadão, sem se preocupar com números do IBOPE. Mas é claro que a gente quer ser assistido pelo maior número de pessoas”, destaca Filho.

Para o jornalista Alberto Dines, ainda é cedo para avaliar a TV Brasil: “em um ano não se avalia nada”. No entanto, segundo Israel do Vale, ex-gerente de conteúdo, a emissora está sem rumo. “Ano passado (em 2008), em pleno processo de implantação da TV digital no Brasil, apenas 7% do orçamento - até então, de R$ 350 milhões - haviam sido gastos”.

A TV Brasil procura o seu lugar, mas “não vem para tirar o espaço de ninguém” como disse a presidente Tereza Cruvinel. Para o professor da UERJ Antonio Brasil, o canal ainda não é a BBC e completa: “a emissora não conseguiu ser sequer a TV Cultura de São Paulo, que continua sendo o melhor exemplo de televisão pública no Brasil. E, infelizmente, a TV Brasil  também não é, pelo menos, a velha e simpática TVE”.

 

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